Make art not content. Li essa frase numa tarde turbulenta de trabalho enquanto me dividia entre a artista que desejo ser e a criadora de conteúdo que me tornei por força do hábito (ou destino). Se eu pudesse compartilhar o álbum onde coleciono dilemas e angústias, certamente a figura mais repetida seria "postar ou não postar” como o ser ou não ser dos primórdios existenciais. Não raro o "postar” ocupa o lugar do ser para muitas pessoas e a culpa não é só nossa, pode apostar.
Passamos metade da vida desejando ser vistos, notados, incluídos, reconhecidos. E a outra metade descobrindo que tudo isso não vale de nada se lá no fundo nós mesmos não nos aprovamos de verdade. Acontece que está cada vez mais desafiador nos aprovarmos com sinceridade em meio a tanta comparação e tantas possibilidades do que poderíamos ser e estar fazendo simultaneamente. Mesmo com uma vida lotada, lista de metas, habilidades sendo desenvolvidas e a sensação que o tempo só pode estar de brincadeira, ainda nos forçamos a assinar mais um job: make content.
Me pergunto tous les jours como seria a minha produção artística se eu não precisasse registrá-la e posicionar o tripé da melhor forma enquanto produzo. Ou se o tempo de edição de um vídeo fosse trocado pela chance de me debruçar mais horas sobre o papel, aquarelando num fim de tarde com meu fone de ouvido e nada mais. Quem eu seria se não dividisse espaço com a ansiedade de olhar pra quase tudo e perceber que daria uma boa foto (será que faço a foto pra garantir?), entre as centenas que já estão no rolo da câmera e as milhares arquivadas na "nuvem". Que tipo de nuvem eu me deitaria se pudesse só criar e criar e criar e não produzir conteúdo algum, afinal essa não seria uma regra do jogo.
A regra do jogo não foi escrita por nós artistas, tá? Por mais que pareça que a gente “aaaame aparecer e compartilhar o que criamos” temos amado cada vez menos. O nível de urgência e superficialidade que um post se tornou - que pra nós sempre foi assunto sério - é de fazer qualquer ser pensante, pensar duas vezes se realmente vale a pena produzir conteúdo. Ceder à dinâmica das redes é nos despedir da sensação de que já fomos suficientes algum dia.
Nesse credo que delícia sem fim, percebo que no fundo, estamos todos desesperados e cansados por ter esquecido que existe vida (e trabalho) fora dessa lógica. Diferente de quando jogamos uno, perfil ou buraco em família e amigos, esse jogo não foi escrito para sairmos com a mente sã. E pra manter a mente sã, seguir em frente criando coisas pra além de um feed e produzir conteúdo dentro de um saudável possível (porque 100% saudável, desculpe sonhadoras, eu não acredito mais), precisaremos falar disso sempre. Renovando reflexões e esperanças, juntinhas. Galera do flickr e blogspot, toca aqui!
Li “faça arte não conteúdo” em um post do instagram e não pude fugir de um riso irônico ao pensar: mas isso É conteúdo - e dos bons. Quanta ironia. Seria hipocresia repostá-la? Seria. Humm, será? Não sei se seria…Essa frase me pegou num lugar bem profundo e por isso cumpriu seu papel: conteúdos dos bons nos atravessam as vezes como um soco. E agora o que eu faço com isso? Paro de fazer conteúdo e me dedico só a “fazer arte” ou escrevo sobre esse dilema na newsletter para compartilhar mais uma figura da minha coleção de dúvidas sobre ser artista aujourd'hui?
aujourd'hui = hoje / en français / do mineirês "ôjurduí”
Não resisti, pardon. Eu adoro misturar palavras francesas na minha sopinha.
Resolvi escrever. Ontem minha prima me mandou um reels com o lançamento de uma nova versão do jogo UNO e ficamos animadíssimas, vai dar bom, algumas tretas claro, mas muuuita diversão (conteúdo bom a propósito!). E aí percebo que o que eu mais gostaria era poder reescrever as regras do jogo Instagram - mas aí me lembrei que não sou um homem, nem um Deus, mas apenas uma leonina abusada que devaneia além da conta e pensa absurdos como esse e ainda tem coragem de escrever.
Nem todo jogo muda de regra, o que muda é a forma como a gente escolhe jogá-lo.
Por hoje, escolho fazer arte e conteúdo. Mas bem mais arte do que conteúdo, nessa medida. E tenho seguido assim tentando manter a mente sã entre dias que este dilema aperta meu calcanhar. Quando aperta demais, recorro a poesia, que encabeça uma das formas de arte mais lindas e um dos formatos de conteúdo mais compartilháveis do mundo. Não deve ser atoa, deve? Que ironia. A poesia é o Ás que completa minha canastra. Leio, escrevo e vez ou outra, posto.
Se um dia eu encontrar a receita do equilíbrio perfeito entre fazer arte e conteúdo, prometo que te conto se você jurar que me conta também.
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Agora compartilharei o que produzi no atelier nos últimos dias, por que estou fazendo exatamente o que estou fazendo e onde estou - neste instante - na construção da minha nova série, Mon Jardin.